PAPEL DO HPV, EBV E CMV NO CARCINOMA CERVICAL: Relação com Oncoproteína E- Caderina.
EBV; CMV; Carcinoma cervical; E-caderina; LMP1
O câncer cervical é a quarta neoplasia mais comum entre mulheres no mundo e o terceiro tipo mais frequente no Brasil, com uma taxa de mortalidade de 5,74 por 100.000 mulheres apenas no Ceará. O principal fator de risco é a infecção pelo HPV, porém, estudos apontam uma possível participação do vírus Epstein-Barr (EBV) e Citomegalovírus (CMV) na oncogênese. Objetivos: Este estudo investigou a associação de EBV e CMV com o carcinoma cervical e lesões pré-malignas, explorando a interação com o HPV e a oncoproteína humana E-caderina. Metodologia: Foram analisados 79 casos de carcinoma cervical e 51 biópsias ambulatoriais, incluindo lesões pré-malignas e não malignas. As amostras passaram por PCR para detecção de HPV, CMV e EBV, além da genotipagem do HPV16 e 18, também foi utilizado qPCR para quantificação de EBV, hibridização in situ (HIS) para EBERs e DNA do EBV, e imuno-histoquímica para LMP1 e E-caderina. Foram também avaliadas a deleção de 30pb no gene viral LMP1, o sequenciamento do EBVpara confirmação do alvo amplificado e a integração do HPV16. Resultados: O HPV foi detectado em 94,9% dos carcinomas e 78,4% das biópsias. A integração do HPV16 foi observada em 44,4% das amostras ambulatoriais e 89,4% dos carcinomas, indicando uma forte associação com a progressão tumoral (OR=10,6; P<0,01). O EBV foi identificado por PCR em 30,4% dos carcinomas (OR=5,1; P<0,01), com maior carga viral em carcinomas de células escamosas (P=0,05) e moderadamente diferenciados (P=0,03). A deleção de 30pb no gene LMP1 do EBV, presente em 19% dos carcinomas, foi associada à virulência e à integração do HPV16. O CMV foi encontrado em 10,1% dos carcinomas, especialmente em adenocarcinomas. A E-caderina mostrou expressão membranar positiva em 55,4% dos carcinomas de células escamosas. Além disso, a expressão membranar de E-caderina aumentou em nove vezes as chances de integração do HPV16 (OR=9,0). Observou-se também uma correlação inversa (Rho=-0,397; P=0,041) entre o Labelling Index (LI) da E-caderina de membrana e a carga viral de EBV, destacando a interação entre a expressão da E-caderina e a carga viral na progressão tumoral. Conclusão: O estudo reforça a associação entre EBV e carcinoma cervical, destacando a importância do EBV, junto com o HPV, na progressão da doença. A deleção de 30pb no gene LMP1 e a integração do HPV16 no genoma do hospedeiro são indicativos de maior agressividade tumoral, enquanto a presença de CMV requer mais investigação. Sobre a expressão de E-caderina a correlação inversa verificada indica que uma maior carga viral de EBV está associada a menores níveis de expressão de E-caderina. Esses resultados ressaltam a relevância de múltiplos fatores virais no desenvolvimento do câncer cervical e reforçam uma possível colaboração entre EBV e HPV, ao passo que demonstra a importância de mais estudos que, em última análise, têm potencial de reorientar medidas de diagnóstico precoce, prevenção e tratamento.