Avaliação da atividade leishmanicida in vitro da lectina de Dioclea violacea Mart ex Benth em cepas de Leishmania sp.
Leishmaniose tegumentar. Dioclea violacea. Espécies reativas de oxigênio. Membrana parasitária. Permeabilidade. Potencial de membrana. Lectina.
As leishmanioses são caracterizadas como um conjunto de doenças negligenciadas de interesse clínico e epidemiológico. Possuem distribuição mundial e são causadas por protozoários do gênero Leishmania. O tratamento primário desta doença baseia-se no uso de antimoniais pentavalentes e drogas secundárias, como a anfotericina B. Um dos principais desafios da terapia atual encontra-se na resistência dos parasitas aos medicamentos, aos efeitos adversos por estes provocados e também no alto custo de algumas destas drogas, o que fomenta a pesquisa por novas alternativas terapêuticas. Neste contexto, encontram-se as lectinas, proteínas de origem natural capazes de desempenhar diversas funções nos organismos em que são encontradas. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito leishmanicida da DVL frente a promastigotas de L. shawi e L. guyanensis e a atividade citotóxica desta frente a macrófagos peritoniais de camundongos BALB/C. Para isto, formas promastigotas foram incubadas com diferentes concentrações de DVL (324 – 5,06 μg/mL) e a viabilidade celular determinada por contagem em câmara de Neubauer. Por meio da determinação da CI50, foi avaliada a participação do domínio de reconhecimento a carboidratos (DRC) e a influência da manutenção da estrutura nativa da proteína na atividade da lectina. Afim de verificar possíveis mecanismos de ação envolvidos na atividade da DVL, foram realizados ensaios de fluorescência com o diacetato de 2’,7’- diclorodihidrofluoresceína (DCFH2-DA), iodeto de propídio (IP) e rodamina 123 (Rho 123), para investigação da indução da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), danos à integridade da membrana parasitária e alterações no potencial de membrana mitocondrial de promastigotas, respectivamente. Em função de avaliar a participação de peróxido de hidrogênio externo na atividade da lectina, foi realizado ainda o ensaio de bloqueio da atividade com a catalase (25 μg/mL). Para mais, por meio do teste do brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio (MTT), foi possível, também, determinar a citotoxicidade da DVL em macrófagos peritoniais de camundongos BALB/C. Nas avaliações realizadas, a DVL inibiu o crescimento de formas promastigotas de maneira concentração e tempo dependentes nas duas cepas, com valores de CI50/24h em L. shawi de 113,3 μg/mL e de CI50/48h em L. guyanensis de 30,27 μg/mL. Os dados obtidos mostraram que a atividade da lectina está relacionada à sua capacidade de reconhecer e se ligar a glicanos presentes nas duas espécies de leishmania e à manutenção de sua estrutura nativa. O tratamento com esta foi capaz de induzir a produção de EROs e danos à integridade da membrana celular, porém não foram observadas alterações no potencial de membrana mitocondrial dos parasitas. Além disto, a lectina demonstrou ainda toxicidade a macrófagos peritoniais de camundongos, porém em concentrações mais altas e com resultados melhores do que aqueles observados no tratamento com a anfotericina B. Os resultados obtidos sugerem que a DVL é uma alternativa promissora para o estudo das leishmanioses, entre características dos próprios parasitas até o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas; entretanto, mais estudos são necessários para elucidar os prováveis mecanismos envolvidos na atividade desta proteína.