EFEITO VASORRELAXANTE DO EUGENOL EM ARTÉRIAS UMBILICAIS HUMANAS COM PRÉ- ECLÂMPSIA: AVALIAÇÃO DO ENVOLVIMENTO DO RECEPTOR 5-HT2A EX VIVO E IN SILICO
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Introdução: A pré-eclâmpsia (PE) é uma doença multissistêmica exclusiva da gravidez caracterizada por hipertensão arterial e frequentemente proteinúria que surge após a 20ª semana de gestação. Suas manifestações podem se desenvolver ou evoluir para complicações mais graves com alta morbimortalidade materna e perinatal como síndrome HELLP e eclampsia. A etiologia exata da PE é desconhecida, embora a sua fisiopatologia esteja associada à má adaptação materna à gravidez resultando em isquemia placentária, o que pode levar a restrição do crescimento fetal e outras respostas maternas exacerbadas como resistência vascular sistêmica proteinúria e lesão hepática. O tratamento da PE envolve o controle dos níveis pressóricos e a proteção de órgãos, embora a utilização dos fármacos seja limitada devido ao período gravídico ou apresente pouca eficácia. A resolução do parto é a única cura da PE, o que leva a partos prematuros e morbidade perinatal. Dito isso, é de grande importância a exploração de substâncias vasodilatadoras com o potencial de normalizar a circulação feto-placentária afim de evitar danos fetais. Os metabólitos secundários apresentam grande diversidade químico-estrutural e atividades biológicas. Dentre estes, o eugenol (EUG), da família dos fenilpropanoides apresenta baixa toxicidade e grande potencial vasodilatador com relatos em vasos animais: artéria cerebral, torácica, pulmonar, mesentérica, aorta e mais recentemente em artéria umbilical humana normotensa (AUH). Objetivos: Diante disso, o presente estudo buscou avaliar o efeito vaso relaxante do EUG em AUHs acometidas por PE por meio da técnica de banho de órgão. Metodologia: Para tanto, o estudo foi previamente submetido e aprovado em comitê de ética (nº 3.832.881). Após a coleta do cordão umbilical as AUHs foram dissecadas, cortadas em anéis de 3-5 mm e montadas entre hastes de banho de órgãos termostatizado (37º C) com cubetas de 10 mL de solução nutridora Krebs Henseleit, sob aeração (95% O2 e 5% CO2) e pH 7,4. Antes de cada experimento as AUHs passaram por uma estabilização de 90 minutos seguida da verificação da viabilidade do tecido com KCl. O efeito do EUG (1-1200 µM) foi avaliado sobre o tônus basal espontâneo, na presença de agonistas eletromecânico (KCl 60 mM) e farmacomecânica (5-HT 10 µM) e na presença de bloqueadores (4-AP, GLI, TEA). Além disso, foi avaliado a afinidade do EUG com o receptor 5-HT2A por meio de simulação computacional. Para a docagem molecular foram utilizadas 13 estruturas. Os parâmetros de docagem foram definidos através do processo de redocagem e os cálculos realizados utilizando o software AutoDock 4.2.6. Resultados: O EUG (1-1200 µM) causou redução do tônus basal (concentrações estatisticamente significativas a partir de 20 µM). Em 1000 µM relaxou 100% as contrações induzidas por KCl e 5-HT com CE50 de 266,74 ± 4,90 µM e 153,20 ± 4,73 µM, respectivamente sendo, portanto, mais potente na via farmacomecânica. Na presença dos bloqueadores dos canais de K+ foi obtido 100% de relaxamento na presença da 4-AP e GLI e 94,81% na presença do TEA (1 mM), com leve alteração das CE50 em comparação a via da 5-HT o que sugere pouco ou nenhuma participação dos canais de K+ no efeito vasorrelaxante do EUG na AUH com PE. Em sua interação com as 13 estruturas do receptor 5-HT2A, o EUG ocupou um sítio de ligação formado por 11 a 15 resíduos, demonstrando energia de ligação entre -5,7 e -7,4 Kcal/mol-1, por tanto dentro do desvio padrão (2,0 Kcal/mol-1). Conclusão: Os resultados apontam um importante efeito vasorrelaxante do EUG no tônus basal e vias de contração da AUH-PE, com o estudo in silico sugerindo uma ação em potencial no receptor 5-HT2A. Com isso, podemos sugerir que o EUG é promissor para o tratamento de distúrbios da circulação feto-placentária, contudo, são necessárias futuras investigações quantos aos seus mecanismos moleculares.